Trama golpista: frases e momentos que marcaram os interrogatórios
Interrogatórios dos réus do chamado núcleo 1 da suposta trama golpista foram realizados em dois dias. Moraes comandou as sessões
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A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) encerrou, nessa terça-feira (10/6), os interrogatórios dos réus na ação penal que investiga uma suposta trama golpista para reverter o resultado das eleições presidenciais de 2022, vencidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Foram interrogados os oito réus que compõem o núcleo 1, considerado o núcleo crucial do caso, conforme denúncia feita pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Os interrogatórios começaram com o ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), tenente-coronel Mauro Cid.
Nervosismo e xingamentos a Moraes
O interrogatório de Mauro Cid foi marcado pelo nervosismo do réu. O tenente-coronel gaguejou repetidamente, com pausas prolongadas e repetições de sílabas.
Cid, que era muito próximo de Bolsonaro, prestou esclarecimentos cara a cara com o ministro Alexandre de Moraes em uma sessão acompanhada in loco pelos demais réus, com exceção do general Braga Netto.
No decorrer das respostas, ele detalhou uma reunião que teria ocorrido entre militares — apelidada pela defesa de “conversa de bar” —, realizada em novembro de 2022, quando o ministro Alexandre de Moraes foi alvo de críticas e chegou a ser chamado de “desgraçado”.
O relato feito por Mauro Cid gerou risos no plenário da Primeira Turma do STF (STF), principalmente quando ele detalhou os xingamentos dirigidos ao relator da ação penal. Confira:
Depois de Cid, a Primeira Turma do STF ouviu o deputado federal e ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem. O interrogatório dele concluiu o primeiro de audiências.
Segundo dia
Nessa terça-feira (10/6), o STF retomou os trabalhos, inciando o dia com o interrogatório do ex-comandante da Marinha almirante Almir Garnier, no qual ele negou que tenha colocado tropas da força à disposição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), visando a suposta concretização da tentativa de golpe de Estado.
Garnier afirmou, ainda, que a única preocupação de Bolsonaro era com a segurança dos quartéis, diante da presença de manifestantes nas imediações.
Ainda pela manhã de terça, foram ouvidos o ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, e o general do Exército e ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno.
Heleno exerceu seu direito de permanecer calado, só respondendo às questões de seu advogado.
Bolsonaro: repúdio ao Golpe e chapa com Moraes
Após pausa para o almoço, a parte final dos interrogatórios retornou com os questionamentos ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Durante as perguntas, ele destacou que a ideia de um possível golpe de Estado é algo abominável, mas reforçou que “estudos” dentro da Constituição Federal foram feitos.
“Da minha parte e dos militares, nunca se falou em golpe. Golpe é uma coisa abominável. O golpe até seria fácil de começar, é o after day [depois do dia, em tradução livre] que é simplesmente imprevisível. O Brasil não poderia ar com uma experiência dessa, não foi sequer cogitada essa hipótese de golpe no meu momento”, ressaltou.
Em breve momento de descontração durante os questionamentos de Moraes, Bolsonaro brincou ao convidar o magistrado para uma possível chapa para concorrer às eleições de 2026.
Os dois começaram a rir quando Bolsonaro perguntou se poderia fazer uma brincadeira. Moraes o advertiu, simpático, e afirmou: “Melhor perguntar aos seus advogados”. Bolsonaro riu, e falou: “Queria convidar o senhor para ser meu vice em 2026”. Moraes riu e disse: “Declino”. Confira:
Bolsonaro também detalhou uma reunião com generais e outras autoridades militares, na qual foram sondadas possibilidades dentro das quatro linhas da Constituição.
“Conforme falou o general Freire Gomes, talvez foi nessa reunião, nós estudamos possibilidades outras dentro da Constituição, ou seja, jamais saindo das quatro linhas. Como o próprio comandante [Freire Gomes] falou, tinha que ter muito cuidado com a questão jurídica, porque não podíamos fazer nada fora disso”, disse.
Desculpas para Moraes
Após o interrogatório de Bolsonaro, foi a vez do general da reserva Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa no antigo governo. Ele foi questionado por Moraes sobre uma reunião ocorrida em julho de 2022, da qual participaram ele, Jair Bolsonaro e outras pessoas, e quando o sistema eleitoral foi criticado.
Na ocasião, segundo a investigação, Nogueira teria atacado as urnas. Já agora, no interrogatório, ele pediu desculpas na presença de Moraes.
“Queria me desculpar publicamente por ter feito essas colocações naquele dia. Eu assumi o ministério da Defesa e não tinha 3 meses de pasta. Depois de 47 anos de Exército e, talvez naquela postura de militar, e vendo aos poucos que as coisas iam ser diferentes, coincide com essa reunião que eu trato com palavras não adequadas. Na verdade, palavras completamente não adequadas ao trabalho do TSE”, disse.
O ex-ministro itiu que marcou encontro com o hacker Walter Delgatti, a pedido do ex-presidente Jair Bolsonaro, mas que não o recebeu. O hacker teria sido procurado para tentar invadir o sistema das urnas eletrônicas e comprovar a possibilidade de fraudes.
Estou preso?
Os interrogatórios se encerraram com a oitiva do general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e ex-candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro, em 2022. De praxe, o ministro Alexandre de Moraes perguntou fatos acerca da vida do réu, como profissão, status civil e se tem conhecimento dos crimes que lhe são atribuídos.
Nesses questionamentos, Moraes perguntou se o general já havia sido preso.
Braga Netto disse: “Eu estou preso agora”.
Moraes respondeu: “Eu sei, fui eu que decretei”.
O momento gerou risos no plenário da Primeira Turma do STF. Braga Netto negou que teria coordenado os ataques sofridos nas redes sociais pelos ex-comandantes do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, e da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, depois que eles negaram participar da suposta trama golpista.
“Eu me recordo dessas mensagens, que eu vi no inquérito. No inquérito elas estão descontextualizadas. Eu jamais coordenei ou ordenei ataques a nenhum dos chefes militares. Pelo contato que eu tinha com eles, se eu tivesse falado algo com eles eu falaria pessoalmente. Eu não coordenei”.
Após o encerramento dos interrogatórios, Moraes revogou a proibição que impedia o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e os demais réus da suposta trama golpista de se comunicarem entre si.
As proibições estavam em vigor desde janeiro do ano ado. A decisão de Moraes, no entanto, estende-se, apenas, aos envolvidos do núcleo 1. “Com isso, encerramos todos os interrogatórios – declaro encerrada a audiencia de instrução da AP 2668 – já saem as partes intimadas para eventuais esclarecimentos”, finalizou o ministro.
Veja quais crimes respondem os intergrante do núcleo 1:
- Organização criminosa armada;
- Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
- Golpe de Estado;
- Dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União, com considerável prejuízo para a vítima;
- Deterioração de patrimônio tombado.