Rival de Marcola: em 1 ano, mortes elevam pena de ex-PCC em 75 anos
Roberto Soriano, o Tiriça, já ocupou o segundo cargo mais alto na hierarquia da maior facção criminosa do Brasil e agora é rival de Marcola
atualizado
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Roberto Soriano, de 51 anos, o Tiriça, teve seu tempo atrás das grades aumentado em pouco mais de 75 anos, após ser condenado por dois homicídios, entre agosto de 2023 e essa segunda-feira (9/6). Ele já compôs a cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC), até protagoniar um racha com o líder máximo da facção, Marco Herbas Willian Camacho, o Marcola.
O motivo da dissolução da parceria entre os integrantes dos cargos mais elevados da hierarquia do crime foi uma declaração de Marcola, gravada por um carcereiro, na qual classificava Tiriça como “psicopata”. Isso foi usado para que ele fosse condenado a 31 anos de prisão, pelo assassinato de uma psicóloga (leia mais abaixo).
No início desta semana, o ex 02 do PCC foi condenado a 44 anos e 8 meses de prisão pelo homicídio qualificado do agente penitenciário federal Alex Belarmino de Souza, 36. A vítima foi alvo de uma emboscada, quando se deslocava para o trabalho, em setembro de 2016, na cidade de Cascavel (PR).
A sentença foi anunciada às 21h11, após oito dias de julgamento, pelo juiz André Wasilewski Duzczak, do Tribunal do Júri da 13ª Vara Federal de Curitiba.
O advogado de Tiriça, Cláudio Dalledone, afirmou ao Metrópoles, nesta terça-feira (10/6), que já entrou com um recurso contra a condenação. “O júri julgou a biografia do acusado e não a ausência de provas”, argumentou, acrescentando que não iria comentar mais nada sobre a sentença.
O “racha” no PCC
Como mostrado pelo Metrópoles, a liderança de Marcola é contestada por três antigos aliados: Roberto Soriano, o Tiriça, Abel Pacheco de Andrade, o Abel Vida Loka – ambos faziam parte da alta cúpula desde 2002 –, e Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho.
O principal motivo seria um diálogo gravado entre Marcola e agentes da Penitenciária Federal de Porto Velho (RO) no qual ele afirma que Tiriça seria um “psicopata”. A declaração foi usada por promotores no julgamento de Tiriça, que foi condenado a 31 anos de prisão, em 2023, como mandante do assassinato da psicóloga Melissa de Almeida Araújo, 36.
Ela trabalhava na Penitenciária Federal de Catanduvas (PR) e foi fuzilada, em 2017, na mesma cidade na qual o agente federal também foi executado, com 23 tiros.
A fala de Marcola teria sido interpretada pelos antigos aliados como uma espécie de delação. Tiriça estava para sair da cadeia, caso não fosse condenado, destacou ao Metrópoles, em 2024, o promotor Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo (MPSP).
“Esses caras [Tiriça, Abel Vida Loka e Andinho] ajudaram a fazer o PCC crescer, com eles todos na liderança. É gente do topo da pirâmide, parceiros muito próximos que, agora, são inimigos”, completou Gakiya, na ocasião.
“Salves” e sentença
O promotor contou ainda que os dois lados da guerra na cúpula da facção transmitiram seus respectivos “salves”, como são chamados os comunicados internos do PCC, para decretar a expulsão dos rivais.
A diferença é que o grupo de Tiriça, considerado o 02 da facção até o racha, enviou a ordem apenas a outros membros importantes da organização que estão presos na Penitenciária Federal de Brasília, enquanto Marcola mandou um “salve” para fora do sistema carcerário, a fim de tentar garantir a fidelidade das lideranças do PCC que estão nas ruas, os Sintonias da Rua.
Além de rebater as acusações dos outros chefões sobre ter “delatado” Tiriça, Marcola comunicou no “salve” a expulsão dos três ex-aliados da cúpula e os “decretou” à morte.